Álbuns conceituais: a experiência além da música



A definição para o termo álbum conceitual é bastante ampla. Quando lembramos de trabalhos deste gênero, inicialmente nos vem à cabeça discos que contam uma história através de todas as faixas, o que nem sempre acontece. O disco conceitual pode também contar com letras que se diferem entre sí mas que tratam de um mesmo tema, o que NÃO é o caso de uma ópera-rock, por exemplo, em que as letras estão todas interligadas por meio de um único enredo, o que dá ao trabalho ares literários e até mesmo teatrais.
Enquanto todas as óperas-rock podem ser consideradas discos conceituais, nem todos os discos conceituais podem ser considerados  óperas-rock. Complicado? Nem tanto. Há por exemplo álbuns conceituais como Tommy, do The Who e The Rise and Fall of Ziggy Stardust and the Spiders From Mars, de David Bowie, que possuem personagens e uma única história que vai se desenrolando faixa à faixa, enquanto que há também os chamados conceituais, álbuns como In the Weel Small Hours de Frank Sinatra que não exatamente conta uma história com começo, meio e fim, mas aborda em todas as faixas sua melancolia sentimental, tendo como único tema o fim de seu romance, (algo como Chris Martin fez com seu Ghost Stories após levar um belo pé no traseiro).
Apesar do disco de Sinatra ser lançado em 1955, muitos consideram que o formato surgiu inicialmente com as grandes bandas de rock dos anos 60. Sgt. Peppers Lonely Hearts Club Band, álbum de 1967 dos Beatles, é tido oficialmente por muitos críticos musicais e fãs como o precursor do estilo, batendo de frente com tantos outros apreciadores que acreditam que o título pertence à banda The Moody Blues, com o seu Days of Future Passed, também do mesmo ano. Discussões à parte, a década de 1960 fez brotar inúmeros trabalhos conceituais e a partir de então, discos com alto teor de qualidade envoltos numa história ou num tema foram produzidos. Os já citados Sgt. PeppersDays of Future Passed (ambos de 1967) e Tommy (1969), são bons exemplos de álbuns conceituais sessentistas.
Na década seguinte os discos conceituais tiveram predominância sobretudo entre as bandas progressivas. Um dos grupos que mais se destacou dentro deste formato foi o Pink Floyd, com os álbuns The Dark Side of the Moon (1973) e The Wall (1979). Além deles, outros nomes da vertente como Emerson, Lake, and Palmer (Tarkus, de 1971), Yes (Tales from Topographic Oceans, de 1973), Jethro Tull (Thick as a Brick, 1972) entre outros, produziram excelentes discos com temáticas conceituais.
Dentro do heavy metal bandas clássicas como Iron Maiden (Seventh Son of a Seventh Son,1988), King Diamond (Abigail, 1987) e Queensrÿche (Operation: Mindcrime, 1988) também representam bem este formato de trabalho, abordando variados temas e enredos de forma criativa e mais pesada.
Já nos anos 90, em meio ao surgimento de movimentos como o grunge, o formatoconceitual apareceu timidamente através dos trabalhos de algumas bandas como The Smashing Pumpkins (Mellon Collie and the Infinite Sadness, 1995), Radiohead (Ok,Computer, 1997) e Blur (Parklife, 1994).
Mas o gênero conceitual não é privilégio somente entre os lendários grupos de rock. Até mesmo a sonoridade moderna dasbandas indies da atualidade compõem este tipo de trabalho em que os sentidos da interpretação das letras e audição, devem estar bem aguçados. Bons exemplos ficam a cargo de nomes como Arcade Fire (The Suburbs, 2010), Muse (The Resistance,2009) e Death Cab for Cutie (We Have the Facts and We’re Voting Yes, 2000).
Presente em todas as vertentes musicais, este formato fonográfico vem sofrendo mudanças sensíveis através dos anos, mas sua essência continua a mesma: nos levar à uma experiência que vai além de uma simples audição, expandindo nossa visão além da música.

Postado originalmente no blog Cadê Meu Whiskey?

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