Menos fanatismo e mais fones de ouvido

Por Carlos H. Silva

José Norberto Flesch, do jornal Destak, cobriu para o UOL o show do Avenged Sevenfold no Espaço das Américas, dia 12 de março, na matéria que você pode ler clicando aqui.

Sobre o show em si nada tenho a escrever pois não estive presente, para isso acessem o link e leiam a matéria, mas posso afirmar sobre o show no Rock in Rio 2013 onde estive presente e foi um espetáculo, uma banda afiada que toca muito pesado e tem uma puta presença de palco, e se apresentou de igual para igual tocando entre dois gigantes do metal – Slayer e Iron Maiden.

Sobre esta última é onde está toda a “polêmica”, pois no título da referida matéria, Flesch afirma que o Avenged Sevenfold pode ser o substituto do Iron Maiden, gerando, é claro, revolta dos mais radicais (“fãs” xiitas), dizendo que uma banda como o Iron Maiden nunca será substituída e até que (risos antes) “não se pode comparar pois fãs de Iron Maiden são cultos e fãs de Avenged Sevenfold são mal educados que não tiram o boné para sentar-se à mesa” (risos depois).



Os caras leem o texto, acham um absurdo e não compreendem o espírito da coisa – além, é claro, de nenhuma linha escrita. É óbvio entender porque o Avenged Sevenfold pode ser o substituto para o Iron Maiden. A primeira coisa para entender isso é que “substituto” empregado na frase não significa “roubar o lugar de” ou “usurpar o lugar de” ou “tomar o lugar de”, e sim que a banda pode ser a próxima grande a ter uma carreira longa, com muito sucesso e principalmente com uma base grande e fiel de fãs. 

Os próprios caras da banda vem usando essa linha de raciocínio/marketing para a divulgação de seu último disco, Hail to the King – que é um ótimo álbum e mais voltado ao metal tradicional do que os anteriores; não foram poucas as vezes em que frases como “queremos ser a próxima banda a carregar a tocha do metal” ou coisas do tipo foram usadas, em referência aos medalhões como Maiden, Metallica ou Judas Priest que, vamos admitir e reconhecer, estão mais próximos da aposentadoria do que do começo de carreira. O essencial é não ver isso como uma coisa ruim. Steve Harris já declarou há anos atrás que o Maiden pararia depois do 15° disco, provavelmente não vai parar, deve ter mais um disco em 2015 ou 2016... e depois disso? Qual a banda que atualmente tem seus membros com metade da idade dos caras, tem lançado ótimos discos, fazem um som competente, já angariou uma base fiéis de fãs e lotam arenas por aí? BINGO. É uma matemática tão difícil assim?

O que os “fãs” tem que entender é que as bandas “substitutas” NÃO significam as duas coisas com as quais eles mais se incomodam: 1) ser banda “substituta” não significa que o som dela é melhor ou pior do que a “substituída”, e nem que ela estará tomando o espaço da banda, usurpando ou roubando, e sim que é uma banda com talento para construir a sua própria carreira de forma grandiosa a partir dali, e que enquanto as duas existirem elas podem COEXISTIR; 2) eles não precisam gostar desta banda “nova” (muita atenção neste ítem, por favor).

Ainda que a habilidade do Sevenfold para criar arranjos fique longe daquela que mostra o Maiden --e, apesar de ter metade da idade dos integrantes da banda inglesa veterana, os rapazes norte-americanos não têm a mesma agilidade no palco-- não prestar atenção ao Avenged Sevenfold é ficar parado no tempo.

Como acontece com o Iron Maiden há anos, o A7X --como também é conhecido-- tem uma plateia que canta junto não apenas as letras, mas também a melodia das canções. Qual outra banda de metal desta geração e estilo tem tantos hinos para 8.000 vozes, capacidade máxima do Espaço das Américas? Foi assim com praticamente todas as 15 músicas do set list.

O cara ainda traduziu a afirmação do título no parágrafo acima e muita gente continuou sem entender e continuou a comparar as bandas musicalmente ao invés de pensar em todo o contexto da afirmação. Eu ainda incluiria mais uma: qual banda da atual geração levaria ao Rock in Rio, em uma noite em que dividiu palco com dois monstros sagrados (novamente: Iron Maiden e Slayer), uma quantidade enorme de fãs que cantou o show todo e, o melhor de tudo, fez com que o público que não estava lá para vê-la a respeitasse e em nenhum momento ouviu-se vaias ou coro de “Maiden! Maiden!”? - e isso quando os “experts” do fanatismo brasileiro diziam que a banda sairia do palco com no mínimo algumas garrafas tacadas? - E por que esta banda não pode ser candidata a próxima grande do metal depois de um teste desses?

Faço uma outra observação: Quando o Iron Maiden surgiu e estourou, tornou-se a maior banda do heavy metal, isso fez o Black Sabbath desaparecer? Isso fez o Sabbath ser menos importante ou perder fãs? O Black Sabbath não acabou de lançar um disco em 2013?

Quando o Pantera e o Sepultura dominaram o mundo nos anos 90, isso fez o Metallica, o Megadeth e o Slayer deixarem de existir?

Quando o Lamb of God ou o Mastodon foram “descobertos” pelo público de metal nos anos 2000 fez o Pantera ser esquecido pelos fãs?



Nós, que gostamos de heavy metal, sempre nos orgulhamos de que no metal, ao contrários das modas musicais brasileiras, quando uma coisa nova surge, a antiga continua existindo firme e forte (muitas vezes tendo que se reinventar, é claro), por que nos incomodamos tanto quando alguém afirma que banda X pode ser a nova banda Y em termos de carreira, popularidade e reconhecimento?

Pois preparem-se, pois se o Avenged Sevenfold não conseguir, será outra que conseguirá. O heavy metal continuará por aí para sempre. Ele não vai morrer quando as atuais bandas lendárias pararem.


Não gostar do Avenged Sevenfold é um direito de qualquer um. Aliás, isso não é nem direito, está acima do direito, porque gosto é gosto e não obrigação, ou você gosta ou você não gosta. Mas essa birra com a banda já deu o que tinha que dar. E o pior: é coisa de quem nunca ouviu mais do que duas ou três canções.

Caras, sinceramente, menos fanatismo religioso e mais fone no ouvido.

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