John Entwistle, o datilógrafo do Rock!

Por João C. Martins

Quando o assunto é Rock ‘n’ Roll, sabemos que não existem limites para uma nova criação, pois apesar de tudo ser muito simples na elaboração dos sons, a infinidade se faz presente em qualquer banda, seja ela Punk, seja ela de um complexo ProgMetal. Inicio o texto com essa fala, para encabeçar o assunto a respeito de um dos maiores músicos de todos os tempos, músico esse que infelizmente já não brilha mais em vida, contudo deixou sua marca para toda a eternidade, gravada em nós, por conta daquilo que fez desde meados dos anos 60. Sem muita enrolação, o mestre John Alec Entwistle, é quem inspira o papo de hoje. Para quem não sabe ele é, junto de Roger Daltrey, Pete Townshend e Keith Moon, o formador do The Who, mas antes mesmo disso já fazia parte, com Pete e Roger, da banda The Detours, e também dos nomes que precederam o Who. Ele foi, sem dúvidas, o melhor no seu ramo de atividade, nesse caso o contra-baixo, afinal ele mesmo autodenominava-se um Bassguitar. Ele criou um estilo de tocar dentro do Pizzicato, que poucos são capazes de reproduzir com tanta maestria até os dias atuais, o tal do datilógrafo (chamado assim, pois ele usava os quatro dedos da mão direita para raspar as cordas durante suas performances). Outro ponto a ser ressaltado é o fato de que ele foi o mais Rocker, dentre todos os WHOs, indiscutivelmente, desde suas aparições sempre sérias, suas vestes, como aquele traje de esqueleto, até suas composições, sempre de um tom um pouco mais sombrio, caso de Boris the Spider por exemplo.

The-Ox-john-entwistle-24748300-601-607

Além do Who, John participou de muitos outros projetos, alguns que eram somente dele, e outros com grandes músicos, como no excepcional trabalho conhecido por Tipton, Entwistle & Powell, onde reunia os três nomes num power trio headbanger ao extremo! Escute a faixa Never Say Die do álbum Edge of the World, que gravaram juntos e veja a miscigenação constante entre os três envolvidos, pode se notar resquícios de todos em cada nota entoada.

Tipton, Entwistle & Powell – Never say die

 

Sem contar que John também participara do álbum solo, Baptizm of fire, de Glenn Tipton. Nesse disco, é impossível não notar a veia rockeira de nosso ícone, embora isso não tenha acontecido do dia para a noite, The Ox (como John era chamado), sempre colaborava com uma gravação ou outra nos discos do Who, porém muitas de suas composições destoavam daquilo que Pete tinha como propósito para a banda, e de tantas composições que ficaram de fora, ele pôde gravar um compacto só de canções dele! E eis que tivemos o grandioso, primeiro disco solo do rapaz, chamado: Smash Your Head Against the Wall (1971).

O lineup, há quem diga, que foi assim: John Entwistle (Vocais, baixo, metais, percussão, piano e teclados), Dave Cyrano Langston (Guitarra e violão), Jerry Shirley (Bateria) Keith Moon – veja só! (Percussão e backing vocals) e Neil Innes (Percussão e backing vocals).

Um esplêndido álbum. Sou até capaz de proferir que é meu favorito do Who sem o Who, se assim posso dizer. A primeira faixa já surge com um riff tremendamente pesado, digno de um clássico do Metal, a canção chama-se My Size, e embora não seja nada similar à que posteriormente seria lançada com no Who’s Next, chamada My Wife, tenho meus motivos para dizer que elas são oriundas uma da outra e vice versa. Ouça!

John Entwistle – My size

 

Para os que curtem um bom Heavy Metal é uma faixa indispensável! E outra, é completamente perceptível que Black Sabbath, isso aí Black Sabbath, se inspirou quando, anos depois, em 1974 mais ou menos, lançou um de seus trabalhos mais pesados até então, o que tinha como faixa introdutória, simplesmente o título do disco. Claro que estou falando de Sabbath Bloody Sabbath, e caso queira me comprovar que o riff dela não foi extraído de My Size, traga seus argumentos, porque me desculpe, ainda não acredito em tantas coincidências assim. Para não pensar que estou ficando louco, compare agora que já ouviu a primeira.

Black Sabbath – Sabbath Bloody Sabbath

 

São idênticos, não? Uma tonalidade acima, outra abaixo, entretanto… Idênticos.

Esse disco de John Entwistle, é repleto de frases instrumentais, diria que, milagrosas, afinal o que esse cara fazia ao empunhar um contra-baixo era coisa de outro mundo. O disco, conta com dez faixas, além de mais oito Demos, trabalhos em estúdio etcetera. Outra das que mais me chama a atenção, What Kind of People are They?, ela inicia em um estilo fúnebre, alguns metais, que não consigo distinguir quais, com certeza tocados pelo mestre Thunderfingers (outro pseudônimo de John). Seguida dela há, quem sabe, a mais famosa, muito pelo fato de que já era tocada com o Who, e que mais agradou a Gregos e Troianos, que é Heaven and Hell, que tem uma letra simples seguida de uma melodia, também simples, embora seja genial. Os comparativos que faz entre céu e inferno são muito engraçados, talvez com algo mais implícito nas palavras, mas que por hora só são cômicos. Vale a pena conferir.

John Entwistle – Heaven and Hell

 

Caso queira ouvir a versão com o Who, basta clicar aqui.

Eu não escondo de ninguém, que sou um fã incondicional do quarteto Inglês mais temido da história, contudo escondo menos ainda que quase idolatro o que John Entwistle representou para o Rock, e me vejo obrigado a dizer que seu trabalho solo fez coisas tão, se não até mais, impressionantes que o Who em quase duas décadas.

Fechando o disco temos I Believe in Everything, que para descreve-la só encontro uma palavra: LINDA!

Outro ponto a se ressaltar, é que todas as letras estão relativamente interligadas. O que quero dizer? Que todas as letras têm um Q de espiritualidade envolvido, seja ele na questão céu e inferno, como já falamos, seja ele na questão de uma vida passada, como na última citada. Realmente um disco excelente.

Aconselho você a escutar o disco todo, e para facilitar sua vida, é só clicar! Ele está completasso, conta até com as faixas bônus que citei.

John Entwistle – Smash Your Head Against the Wall (Full album)

 

Observações:

- Esse disco teve a participação do, também baixista, Greg Ridley, nas canções My Size e I Believe in Everything, o principal motivo para isso ser dito é que Greg participou como baterista;

- Algumas canções não entraram na mixagem do álbum oficial, mas também não ficaram de fora. As que saíram apenas como Demo nesse foram as belíssimas It’s Hard to Write a Love Song e World Behind my Face;

- John para sempre viverá no coração de qualquer baixista nesse mundo, muito obrigado por tudo o que fez, mestre!

 

Comentários