2112: entenda a épica canção do Rush

Hoje é dia 21/12 e para os fãs de uma banda em especial, hoje é mais conhecido como "dia do Rush"! Por quê? Porque um dos álbuns mais clássicos do trio canadense de rock progressivo chama-se 2112 (1976) e obviamente que todos nós fãs desses caras faríamos uma ligação especial deste título com este dia.



O Rush Fã Clube Brasil tem em seu site a explicação ou teorias sobre praticamente 100% da discografia da banda, e então, com todos os créditos possíveis, copio aqui (para o original, clique aqui) para que todos entendam a canção 2112, que tem mais de 20 minutos e é dividida em 7 partes, uma distopia (manja 1984, Laranja Mecânica, etc?) muito influenciada por Ayn Rand, que fez com que na época Neil Peart (o letrista da banda) fosse chamado de "direitista", "nazista" e coisas do gênero. Hoje Neil, certamente, seria chamado de "reaça". E tenho pra mim que ele não ligaria nem um pouco.

Vamos ao que interessa:

2112
Música por Lee e Lifeson / Letra por Peart
Com admiração à genialidade de Ayn Rand

O trabalho na canção 2112 relaciona-se ao romance Anthem, lançado em 1937 pela escritora e filósofa russa Ayn Rand. Nascida em 06 de março de 1905 na cidade de São Petersburgo, Rand passou a viver nos EUA a partir de 1926, tendo optado por divulgar sua filosofia inicialmente através de obras de ficção. Seu trabalho a expõe como uma das mais intransigentes e coerentes defensoras da razão contra as várias formas de irracionalismo, do indivíduo contra as várias formas de coletivismo (social ou estatal) e da liberdade contra todas as formas de servitude.

Em seu romance Anthem, o qual acabou por trazer inspiração para Peart na composição lírica de 2112, Rand fala sobre um futuro inespecífico quando a humanidade entrava numa nova época de escuridão como resultado dos males da irracionalidade, do coletivismo (o estado é sempre maior que o indivíduo) e da fraqueza do pensamento socialista e econômico. Os avanços tecnológicos são cuidadosamente planejados (quando e como) e o conceito de individualismo foi eliminado (por exemplo, a palavra "I" - Eu - desaparecera das línguas). Como é comum em seu trabalho, Rand traça uma distinção clara entre os valores de igualdade e fraternidade do socialismo/comunismo e os valores de propriedade e individualidade do Capitalismo. Ela ilustra as ameaças à liberdade humana, inerente a noções sociais do altruísmo e da caridade, criando uma imagem de um mundo afundado na barbárie através de um sentimento de obrigação social extraviado.

"... Não sou primariamente uma advogada do capitalismo, mas do egoísmo; e não sou primariamente uma advogada do egoísmo, mas da razão. Se alguém reconhece a supremacia da razão e a aplica consistentemente, tudo o mais segue. Isto - a supremacia da razão - foi, é e será a preocupação primária de meu trabalho, e a essência do Objetivismo. ... A razão na epistemologia leva ao egoísmo na ética, que por sua vez leva ao capitalismo na política. A estrutura hierárquica não pode ser invertida, nem pode um nível posterior se sustentar sem o fundamental". (Ayn Rand, "Brief Summary", em The Objectivist, Setembro de 1971, p.1089).

"Não podemos lutar contra o coletivismo, a menos que lutemos contra sua base moral: altruísmo. Não podemos lutar contra o altruísmo, a menos que lutemos contra sua base epistemológica: irracionalismo. Não podemos lutar contra nada - a menos que lutemos por alguma coisa: e aquilo pelo que devemos lutar é a supremacia da razão, e uma visão do homem como ser racional". (Ayn Rand, "Don't Let it Go", em Philosophy: Who Needs It?, p.214).

Sobre 2112, iniciamos mencionando que muitos consideram a canção como uma possível crítica de Peart à indústria musical, esta que geralmente se propõe a controlar a expressão do artista. Apesar das coincidências de contexto que facilmente nos levariam a afirmar tal conclusão, não temos nenhuma declaração de quaisquer integrantes que esgote esse assunto.

I. Overture

Com Overture o Rush inicia a viagem de 2112, através de um instrumental intenso que é rapidamente reconhecido como uma das canções mais marcantes de toda carreira da banda. Essa primeira parte é finalizada com a seguinte frase cantada por Geddy Lee: "...and the Meek shall inherit the Earth...". Este trecho consiste na citação da Bíblia "E os humildes herdarão a terra" encontrada no Livro dos Salmos (capítulo 37 versículo 11) e no Evangelho Segundo Mateus (capítulo 5 versículo 5). A frase foi escolhida como uma espécie de profecia acerca do fechamento da história proposta por Peart.

II. The Temples of Syrinx

Imediatamente somos lançados numa viagem sonora poderosa em The Temples Of Syrinx, onde a história se inicia – o mundo oprimido da Federação Solar. Aqui conhecemos através dos versos de Peart as principais características do contexto vivido em 2112, que existe sob o domínio dos sacerdotes. Esse segmento se encerra como um coração batendo em fúria, num clímax que somente o talento do Rush poderia criar e que magicamente se transforma na próxima parte do conto.

III. Discovery

Discovery apresenta um trabalho intrincado de guitarra feito por Alex Lifeson que maravilhosamente transmite a descoberta do antigo instrumento pelo personagem central numa caverna alagada. A fabulosa progressão desse trecho é marcada por um tocar de cordas que revela uma acústica magistral, descrevendo a cena da descoberta para o ouvinte ao mesmo tempo em que o incita a apreciar o desenrolar dos acontecimentos.

IV. Presentation

Presentation traz uma mágica discussão entre os sacerdotes que querem seguir firmes em sua realidade opressora e o homem que trouxe a descoberta até eles. O desempenho vocal de Geddy Lee nesse trecho é simplesmente genial, pois a maneira com que muda o canto ríspido e acusador dos sacerdotes para a fala envergonhada e descrente do descobridor é algo capaz de deixar os ouvintes mais sensíveis hipnotizados.

V. Oracle: The Dream

Oracle: The Dream segue através de uma caminhada elegante de emoções que transporta o ouvinte para uma viagem ao passado, buscando descobrir a verdadeira razão para a opressão que agora ocorre além do que ainda estava por vir.

VI. Soliloquy

Soliloquy é talvez o segmento mais poderoso e emocionante em 2112. Ele fala da decisão definitiva do personagem após tanta desilusão – o suicídio. Peart escreveu letras incríveis durante toda sua carreira, mas poucas se equivalem às linhas finais deste trecho, que é cantado por Lee com imenso poder e sentimento: "Acho que não posso continuar. Leve embora esta fria e vazia vida. Minhas forças estão fracas no profundo desespero. Meu sangue jorra sem parar..."

VII. The Grand Finale

A maratona triunfante de 20 minutos termina com The Grand Finale. Assim como começou, a canção se encerra com um instrumental poderoso que assustadoramente relembra a derrota da opressão enquanto Peart proclama (três vezes): "... Atenção todos os Planetas da Federação Solar, nós assumimos o controle".



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